15 de nov. de 2016

A última obra de Ivan Cláudio



Janilson Sales de Carvalho 

                Ivan Cláudio era um artista do grafite, da Cidade da Esperança, que faleceu aos 18 anos no dia 08 de maio de 2010, dia do Artista Plástico. Naquele dia, ele iria com outros artistas, a convite da FUNCART,  pintar sua obra no muro da Escola Municipal Emanuel Bezerra, no bairro Planalto. Um problema no coração o impediu de concretizar o projeto, porém, os amigos: Neon, Doce, Hades, Bones e Flor o realizaram. Estive no local poucos dias depois e fotografei a obra. Descobri recentemente que ela foi apagada.
                O grafite é uma arte marginal e por isso some como as nuvens. Não há um projeto de valorização e permanência dessa arte no setor público, nem no privado. Pelo menos aqui em Natal. Precisamos fotografá-las imediatamente, pois durante a noite poderão ser violadas ou apagadas. Para nossa tristeza. 

                Pensei no último recado de Ivan e fui olhar as fotos. O que um jovem com uma doença grave poderia ter deixado como herança de sua arte? Quantas ricas análises poderiam ser feitas sobre aquela cena? Quantos contos? Quantos poemas? O amor está ali no coração ofertado, pulsando de desejo pela amada. Entrega total do afeto. Talvez o frágil coração de Ivan pedindo que alguém o salve. Talvez uma dúvida sobre o grande amor, gerando uma despedida e um encontro.  Sei que fala de amor. Do amor que falta nos dias atuais. Do amor que sumiu sob a tinta branca da ignorância e do desprezo pelas artes marginais. Do amor que resiste na lembrança marcada por uma foto, que brilhará por alguns segundos nas telas de alguns computadores e seguirá sua rota louca na internet. Do amor, nosso mais precioso tesouro.

               


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