10 de fev. de 2017

Yrahn Barreto e a nova geração dos "malditos"



Janilson Sales de Carvalho

                Os artistas são sempre  figuras surpreendentes. São, ou devem ser, transgressores e, por isso, assustam. Os que não surpreenderam com a sua arte, sumiram na poeira. Por sinal, a poeira será o destino da maioria das "elaborações sonoras" (não me atrevo a chamar de "músicas") que estouram nos programas de rádio e de tv aberta. Fazer o quê? Precisamos entender que é uma indústria como a de frangos ou de peixes. Embala-se, vende-se, ganha-se milhões, bilhões, zilhões em algumas semanas, pois a coisa tem prazo de validade e é altamente perecível.Mas o troço, nesse modelo, funciona e bem.
                Mas, como afirma Deleuze, há uma linha de fuga. A Internet tem contribuído para que novos artistas, talentosos e transgressores, divulguem seu trabalho e conquistem seu espaço no cenário da arte. Alguns programas de televisão aberta, pautam seus artistas consultando o número de visualizações que seus vídeos têm na rede mundial. Temos visto aparições repentinas e sumiços rápidos. Só o verdadeiro artista permanece após o furacão midiático das redes. Assim, o seu pequeno jardim no YouTube vai sendo visitado aos poucos, até se transformar numa imensa plantação de flores colhidas com paixão.
                Admiro muitos artistas. Eles têm as chaves da emoção. Entre tantos, guardo lugar especial para Sérgio Sampaio, um capixaba de Cachoeiro de Itapemirim que, apesar do grande talento, não teve o mesmo sucesso do conterrâneo Roberto Carlos. São histórias diferentes, rumos e vidas diferentes. A dimensão de Sérgio é outra e fica no planeta dos maravilhosos "malditos" na companhia de Lima Barreto, João Antônio, Torquato Neto, Paulo Leminski, Plínio Marcos e outros. Partiram e não sumiram na poeira. Deixaram foi uma bela estrada a ser seguida.

                Foi seguindo essa estrada, como fã, que encontrei um novo personagem da bela terra dos "malditos". No querido Bar de Aurino, na Cidade da Esperança, ouvi alguém tocando uma música de Sérgio Sampaio e segui até o local. Era um cabra chamado Yrahn Barreto, entoando uma música após a outra do meu querido "maldito" capixaba. Fiquei na plateia de olhos arregalados. Descobri que Yrahn montou um show em Natal, só com músicas de Sampaio.  Naquele dia tive a certeza: Natal tem muitos tesouros.
                Fiquei curioso e pedi que o novo "maldito" mostrasse suas músicas. Ouvi atento "Ao gosto dos anjos", feita em parceria com Romildo Soares. Só tenho um adjetivo: "espetacular". Como disse antes: "os artistas têm a chave da emoção." Não sou crítico musical, apenas gosto de boa música e bons artistas, pois melhoram o meu dia. Yrahn entrou na lista. Passei a ouvi-lo no carro e em casa. Tenho apenas o cd "Ao Gosto dos Anjos", ouço e leio o encarte com as músicas. Grandes parcerias com Romildo Soares, Jubileu Filho, Cadu Araújo e Antonio Ronaldo.
                Incluo na lista dos "malditos",  o paraibano Augusto dos Anjos que inspirou os dois músicos. Augusto lançou apenas um livro que acordou o ser humano para sua fragilidade. De vez em quando me deparo com bêbados, no rabo da madrugada, declamando poemas dele.  Olham para os presentes com dedo em riste, em grande performance, e proclamam:" O beijo, amigo, é a véspera do escarro/ A mão que afaga é a mesma que apedreja". Espetáculo para poucos.
                Na letra inspirada em Augusto, estão os versos : "Arranjo uma maneira/ De me negar asas/ E vou pisando descalço / As brasas da paixão". Negar asas é típico dos malditos que se atiram de peito aberto à vida. Foi assim com Sérgio Sampaio, é assim com Yrahn Barreto. Benditos “Malditos”.
                              

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