Janilson Sales de Carvalho
Os
artistas são sempre figuras
surpreendentes. São, ou devem ser, transgressores e, por isso, assustam. Os que
não surpreenderam com a sua arte, sumiram na poeira. Por sinal, a poeira será o
destino da maioria das "elaborações sonoras" (não me atrevo a chamar
de "músicas") que estouram nos programas de rádio e de tv aberta.
Fazer o quê? Precisamos entender que é uma indústria como a de frangos ou de
peixes. Embala-se, vende-se, ganha-se milhões, bilhões, zilhões em algumas
semanas, pois a coisa tem prazo de validade e é altamente perecível.Mas o
troço, nesse modelo, funciona e bem.
Mas,
como afirma Deleuze, há uma linha de fuga. A Internet tem contribuído para que
novos artistas, talentosos e transgressores, divulguem seu trabalho e
conquistem seu espaço no cenário da arte. Alguns programas de televisão aberta,
pautam seus artistas consultando o número de visualizações que seus vídeos têm
na rede mundial. Temos visto aparições repentinas e sumiços rápidos. Só o verdadeiro
artista permanece após o furacão midiático das redes. Assim, o seu pequeno
jardim no YouTube vai sendo visitado aos poucos, até se transformar numa imensa
plantação de flores colhidas com paixão.
Admiro
muitos artistas. Eles têm as chaves da emoção. Entre tantos, guardo lugar
especial para Sérgio Sampaio, um capixaba de Cachoeiro de Itapemirim que,
apesar do grande talento, não teve o mesmo sucesso do conterrâneo Roberto
Carlos. São histórias diferentes, rumos e vidas diferentes. A dimensão de Sérgio
é outra e fica no planeta dos maravilhosos "malditos" na companhia de
Lima Barreto, João Antônio, Torquato Neto, Paulo Leminski, Plínio Marcos e
outros. Partiram e não sumiram na poeira. Deixaram foi uma bela estrada a ser
seguida.
Foi
seguindo essa estrada, como fã, que encontrei um novo personagem da bela terra
dos "malditos". No querido Bar de Aurino, na Cidade da Esperança,
ouvi alguém tocando uma música de Sérgio Sampaio e segui até o local. Era um
cabra chamado Yrahn Barreto, entoando uma música após a outra do meu querido
"maldito" capixaba. Fiquei na plateia de olhos arregalados. Descobri
que Yrahn montou um show em Natal, só com músicas de Sampaio. Naquele dia tive a certeza: Natal tem muitos
tesouros.
Fiquei
curioso e pedi que o novo "maldito" mostrasse suas músicas. Ouvi
atento "Ao gosto dos anjos", feita em parceria com Romildo Soares. Só
tenho um adjetivo: "espetacular". Como disse antes: "os artistas
têm a chave da emoção." Não sou crítico musical, apenas gosto de boa
música e bons artistas, pois melhoram o meu dia. Yrahn entrou na lista. Passei
a ouvi-lo no carro e em casa. Tenho apenas o cd "Ao Gosto dos Anjos",
ouço e leio o encarte com as músicas. Grandes parcerias com Romildo Soares,
Jubileu Filho, Cadu Araújo e Antonio Ronaldo.
Incluo
na lista dos "malditos", o
paraibano Augusto dos Anjos que inspirou os dois músicos. Augusto lançou apenas
um livro que acordou o ser humano para sua fragilidade. De vez em quando me
deparo com bêbados, no rabo da madrugada, declamando poemas dele. Olham para os presentes com dedo em riste, em
grande performance, e proclamam:" O beijo, amigo, é a véspera do escarro/
A mão que afaga é a mesma que apedreja". Espetáculo para poucos.
Na
letra inspirada em Augusto, estão os versos : "Arranjo uma maneira/ De me
negar asas/ E vou pisando descalço / As brasas da paixão". Negar asas é
típico dos malditos que se atiram de peito aberto à vida. Foi assim com Sérgio
Sampaio, é assim com Yrahn Barreto. Benditos “Malditos”.
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