Janilson Sales de Carvalho
O
escritor russo Leon Tolstói é autor de
uma das mais belas frases do pensamento humano: "Se queres ser universal,
começa por pintar a tua aldeia". A ação de pintar pode ser estendida a
escrever, falar, cantar e outras que revelem a intimidade com que a terra de origem reverbera na alma e no coração
dos seus nativos residentes ou distantes. Essa intimidade pode surgir numa obra
de arte ou simplesmente na apropriação emocional
dessa obra pelos amantes daquela terra. Foi assim com a poesia "Canção do exílio" de Gonçalves
Dias. Generosamente, ele não cita o nome do lugar e deixa livremente o poema
penetrar em cada alma ao declamar o verso "Minha terra". Com essa
sutileza, os versos passam a representar
todas as terras para todas as pessoas.
A
modernidade nos propicia outras maneiras de demonstrar o nosso amor pela
terra-mãe. Queremos falar e mostrar para o mundo que amamos aquele lugar . Para
nossa sorte, muitos administradores públicos
decidiram "concretizar" os nomes das cidades em objetos de arte,
estrategicamente colocados em locais públicos. Assim, em fotos, nativos revelam
para o mundo sua paixão pela terra e viajantes e turistas compartilham os
lugares que visitaram.
O
fato é que a nossa terra-mãe está em nós, fincada nas nossas lembranças. Essas
lembranças, boas ou ruins, são fundamentais para nossa construção pessoal. Fico
triste quando alguém relata apenas passagens tristes de sua existência em algum
lugar. A vida não é feita só de coisas alegres ou só de coisas tristes. Ela é uma mistura espantosa de milhões de
momentos que deixaram em nossa existência um rastro de experiências
espetaculares. Cada rua é um roteiro de lembranças. Cada casa é um museu de histórias. Cada pessoa é um
personagem vibrante na vida de alguém.
Andei
por alguns lugares, mas minhas paixões ficaram vinculadas a Natal e Várzea. A
minha vida cruzou amavelmente a ponte imaginária que liga essas cidades nos
oitenta quilômetros que as separam. Como Tolstói, cada frase ou verso que
escrevo sai mesclado de memórias e vivências nessas duas aldeias.
Para
minha alegria, Cleide de Carvalho,
ex-prefeita de Várzea, nos presenteou com a obra de arte que
"concretiza" o nosso amor pela cidade. Eu e minha irmã Tânia ficamos
encantados com a ideia. Ali, misturado
com as letras, deixei a minha alegria ser fotografada. Espalharei esta imagem
em cada rede social e cada celular de amigo. A foto vai apenas gritar o nome da
cidade que ocupa boa parte do meu coração. Não aparecerá nela a doce lembrança,
nem a saudade profunda de Raimundo Rosa e Maria Onélia, meus avós maternos,
estrelas que me guiaram, anjos que me protegeram e me ensinaram a amar
Várzea.
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