Janilson Sales de Carvalho
A
música “Romaria” é um dos mais belos momentos do cancioneiro brasileiro. Renato
Teixeira soube expressar a força da fé que existe em qualquer ser humano. Essa
força pode ser compreendida no verso: “Como eu não sei rezar, só queria mostrar
meu olhar”. A humanidade precisa do sagrado.
Outra
música que nos remete ao mesmo tema é “Andar com fé” de Gilberto Gil. Me pego
de vez em quando entoando os versos: “Andar com fé eu vou que a fé não costuma
faiá/ Mesmo quem não tem fé a fé costuma acompanhar”. A fé é uma relação íntima
com o sagrado. As igrejas e os templos exercem um papel importante na reunião
de fiéis, mas a fé acontece individualmente. Estar junto em atos
religiosos é questão de escolha pessoal. Uma ótima escolha, sem dúvida.
As
procissões sempre me impressionam. Cada pessoa está ali por um motivo especial,
dialogando com o sagrado. São milhões de depoimentos íntimos. É uma força
extraordinária que pode ser compreendida apenas observando o olhar de cada
um. O mesmo olhar do homem de fé da
música de Renato Teixeira que possivelmente diria: "a fé não costuma
faiá".
Pude observar
essa força em 2016 no momento de uma consulta da minha nora na Maternidade Divino
Amor em Parnamirim/RN. Existe no salão
central do prédio uma imagem coberta de terços. Olhei demoradamente e não reconheci a figura
sagrada que ela representava. Seria Santa Terezinha? Santa Rita?
Cada terço passou a fazer parte daquela
imagem, marcando um momento de intensa conexão com o divino. Com certeza,
familiares e amigos das parturientes depositaram ali seus terços preferidos,
utilizados em muitos momentos de relação íntima com a fé.
Fiquei
algumas horas acompanhando os procedimentos de exame da minha nora. Durante
esse tempo, muitos casais jovens e adultos circularam pelos
consultórios. Mães partiram com seus
bebês protegidos em belas mantas. Pais esperaram ansiosos informações sobre os
partos. Familiares formaram pequenos grupos falantes em estado de espera. De
vez em quando, alguém tocava a imagem rapidamente e depois seguia para algum lugar
do prédio, em silêncio. Ali, o rezar no olhar e a fé no toque
carinhoso na imagem revelaram que cada
um estava ligado ao sagrado por uma força de esperança íntima e intensa.
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