Janilson Sales de Carvalho
As
grandes revoluções no campo das artes sempre foram provocadas pela reunião de
artistas de vários talentos em um mesmo espaço. Isso foi um fenômeno constante
na Europa e aconteceu também no Brasil. Podemos considerar a Semana de Arte
Moderna, realizada em São Paulo em 1922, como o evento mais conhecido. A partir
daí, dezenas de encontros aconteceram e acontecem pelo país. Alguns atingem
grandes repercussões, como a Tropicália e o Mangue Beat. Outros contribuem para
novas experiências em bairros ou cidades periféricas dos grandes centros. O bom
disso é que tudo que fazem deixa uma herança positiva nessas comunidades.
A Cidade da
Esperança, desde a sua fundação nos anos sessenta, sempre foi um espaço povoado
por artistas. Lembro-me que nessa década, o clube de mães encenava peças em
datas comemorativas. De alguma maneira, esses grupos sempre buscaram uma forma
de convivência em algum espaço. Naturalmente, por tratar-se de um bairro de
trabalhadores, o tempo para os encontros sempre foi um elemento difícil e isso
contribuiu para que tivessem curta duração. É um problema que precisa ser
resolvido com a união de todos.
Uma das
últimas tentativas para reunião desses grupos foi feita pelo artista plástico
Avelino Pinheiro com a inauguração do Bar do Avelino, em sua residência na Rua
Santa Cruz. Esse espaço durou aproximadamente um ano e foi extremamente rico em
experiências artísticas. Durante esse tempo, músicos, cantores, pintores,
escritores e poetas compartilharam boas conversas e ótimos espetáculos.
Um
fato interessante é que havia sempre um violão disponível e qualquer cliente
que soubesse tocar poderia abraçar o instrumento. Nessas ocasiões, outros
clientes apoiavam com uma percussão improvisada
ou bem esboçada em um pandeiro. A festa rolava alegre e sem pressa. Em alguns
momentos, Avelino nos brindava com a sua bela interpretação como sósia de Bel Marques. Era o nosso Belvelino.
O Bar do Avelino se foi como tantos outros.
Mostrou mais uma vez a riqueza artística que existe no bairro. Fez a sua parte.
Fica a saudade.
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