Janilson Sales de Carvalho
Para
mim, o mundo perfeito teria muitas praças e muitas bibliotecas. Tal possibilidade não existe, portanto,
precisamos construí-la dentro da nossa realidade. As praças estão aí,
abandonadas, entulhadas, aguardando sempre o serviço público tomar
providências. As bibliotecas não existem porque não estão nas prioridades nas
políticas dos governos. A cultura sempre está em milésimo plano.
Há
alguns dias fui deixar meu filho no quartel em Nova Descoberta. Observei a
presença de uma geladeira na praça e desci para ver de perto. Pensei no
ready-made de Marcel Duchamp em terras potiguares. Era uma geladeira
transformada em estante. Abri e me deparei com dezenas de livros didáticos
usados. Naturalmente, ali não estava uma manifestação artística, mas uma
proposta de divulgação de leituras. Ótima ideia que aparentemente perdeu o
rumo. Acredito que os primeiros livros eram de romances, contos e poesias que com o tempo foram substituídos
por livros didáticos. Esses livros escolares sempre remetem a refugo, sobra,
restolho. A questão utilitária constrói uma imagem de objeto sem serventia. Sei
que artesanalmente podem resultar em obras interessantes com o aproveitamento
dos textos em novas roupagens. Dá um trabalhinho, mas vale a pena.
Talvez
a bela proposta de uma estante ao ar livre seja um bom começo, porém, percebi
que há necessidade de uma maior atenção e de um monitoramento. Alguém que abre
uma geladeira-estante com livros didáticos só faz isso uma vez. O meu encantamento
submergiu, a alegria se desfez. Quando
doamos livros queremos que outros também
sintam a nossa alegria.
Pensei
numa alternativa: há sempre em todos os lugares espaços de uso coletivo. Temos
associações de moradores, postos de saúde, clubes de jovens, de mães, etc. Estantes com livros nesses lugares são
projetos possíveis e tendem a permitir maior acesso ao público e uma durabilidade das
obras. Teremos postotecas, clubetecas e associatecas. Não importa a “teca”
desde que esteja repleta de livros, de poesias e de sonhos.
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