23 de mai. de 2011

O caminhão da cultura

Professor Janilson

                Em 1976 a Fundação José Augusto implantou o caminhão da cultura, uma biblioteca volante que visitava os bairros de Natal. Na Cidade da Esperança, o caminhão ficava em frente à igreja católica todas as terças-feiras. Lembro-me da criançada e dos adultos em fila, comentando os livros lidos e pedindo opinião sobre outros. Líamos um livro por semana. Naqueles dias, li sobre segredos do fundo do mar, mistérios de florestas, romances indígenas, amores da Bahia, poesia mineira, entre outras maravilhas. A literatura era parte do nosso cotidiano. Muitos daqueles leitores passaram no concurso da ETFRN e no primeiro vestibular da UFRN.
                Há poucos meses, estive na Biblioteca Câmara Cascudo em busca de informações ou registros sobre o caminhão. Lamentavelmente, fui informado ,pelo diretor da biblioteca, da inexistência de qualquer registro e ,tudo indicava, que haviam sido incinerados ou jogados no lixo. Fiquei chocado e triste com o descaso.
Lembro-me que um dia o caminhão não apareceu mais e restou-me, nas mãos de treze anos, o livro “Os Lusíadas” de Luís de Camões. Recordo que não foi, naquela idade, uma escolha muito interessante e que estava louco por trocá-lo pela ”Vaca Voadora” de Edy Lima.
Há 35 anos eu lia um livro por semana em uma biblioteca pública volante. Hoje não há bibliotecas, nem caminhões. Para os administradores públicos, bibliotecas e livros fazem mal. Vivemos uma inquisição moderna e cínica que exclui o livro de todos os espaços.
Ainda sonho com aquele caminhão que chegava numa terça-feira com todos os tesouros da humanidade.

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