Janilson Sales de Carvalho
Para
os mais novos, informo que “As 14 mais” era uma seleção de músicas que
registrava as mais tocadas durante o ano. No final do ano era lançado um LP que resumia
os grandes sucessos e servia como ótimo presente natalino, juntamente com o
disco de Roberto Carlos. Até os anos setenta funcionou bem. É claro que sempre
existiu o “jabá” para corromper radialistas e apresentadores de tv. Nenhum
sucesso é de graça. Mas, assim mesmo “jabazadas”, as 14 traziam uma diversidade
interessante da riquíssima musicalidade brasileira. Nela, rock, samba, bolero,
forró, bossa nova e todos os outros ritmos disputavam a faixas dos lados A e B
do disco.
Lendo
as notícias twitadas em 06/01/2016, encontrei uma que informa que as dez
músicas mais tocadas em 2015 foram as sertanejas. É claro que sabemos que há um
mercado gigantesco estruturado em torno deste estilo musical. Não é por menos
que Faustão e Roberto Carlos “convidam”, o tempo todo, os “cantores sertanejos” para os seus
programas. A coisa funciona. Percebemos
isso em cada espaço de bar ou beira de praia. Só consigo ouvir Zizi Possi,
Geraldinho Carvalho, Vander Lee, Chico César, Zeca Baleiro, entre outros e
outras, em rádios públicas. E o compromisso dessas rádios e tvs privadas com a
arte musical brasileira?
Sei que a dor
de cotovelo é do tempo de Cabral e que a traição matou Euclides da Cunha, mas
transformar esses temas, forçosamente, em repertório nacional é demais. Sinto
saudades de Reginaldo Rossi, pelo menos ele tinha personalidade e não pasteurizava
sua breguice. Raul Seixas gravou “Sessão das dez” e Caetano Veloso gravou
Fernando Mendes. Há lugar para todos. As grandes empresas de comunicação não
podem determinar um padrão artístico para o Brasil. Precisamos encontrar
alternativas para este excesso de poder. A nossa juventude está sendo espoliada
da diversidade cultural brasileira e estamos calados. Parece que a solução está na individualidade. É
preciso tirar o pó dos cds e mostrar suas belas capas e as letras das músicas.
É preciso contar a história de cada disco, dizendo como e porque o escolhemos.
E também porque guardamos. E porque ficamos de olhos marejados, viajando no
tempo, ao ouvir Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Altemar Dutra e Elis Regina,
principalmente, cantando “Corsário”.
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