Janilson Sales de Carvalho
Antigamente,
o ponto mais alto da Cidade da Esperança era o morro que a separa da Cidade
Nova. Subíamos o morro e olhávamos as ruas e suas casas com quintais
arborizados. Sempre foi uma imagem poética e continua sendo.Hoje o bairro
começa a ser ocupado por prédios de muitos andares e olhá-lo de cima passou de
aventura infantil no morro para rotina doméstica nos apartamentos.
Este
novo aspecto do bairro é revelador das profundas mudanças que atingem Natal. A
verticalização das moradias é um fenômeno da paixão pelo bairro e pela cidade.O
território natalense não comporta mais projetos residenciais de casas, restando
aos que desejam aqui morar, a opção pelos prédios.
Algumas
análises apressadas avaliam a ida para os prédios como algo vinculado às
questões de segurança. Com certeza algumas mudanças apoiam-se nisso, mas a
maioria delas revela o desejo de proximidade com lugares historicamente
estruturados em bases familiares, caso da cinquentona Cidade da Esperança.
Quem
caminha pelas ruas do bairro observa que centenas de casas foram partidas em
duas ou três. Esta partição tem históricos familiares profundos, sendo a
solução encontrada para apoiar e proteger filhos e netos.Famílias mais
abastadas construiram andares superiores e acolheram da mesma forma seus
componentes.
Além
dessas famílias que unem-se na mesma casa, algumas pessoas tem adotado o bairro
como fonte de investimento, comprando e demolindo velhas casas, construindo prédios
de dois e três pavimentos para locação de apartamentos que são ocupados
rapidamente.
Sei
que a verticalização do bairro será um processo lento, pois os antigos
moradores amam suas casas e não planejam desfazer-se delas. Um prédio precisa
de várias casas para tornar-se viável. Mas, lembremos que São Paulo também era
um aglomerado de bairros como o nosso e, lentamente, transformou-se numa selva
de pedra. Tudo muda o tempo todo em seu silêncio mineral.
Mudanças
assim são inevitáveis e não podemos sofrer com elas. Resta-nos mudar também o
nosso modo de olhar e acompanhar o crescimento do bairro como o de uma criança,
cercando-o de cuidados e zelos para que continue sendo este lugar maravilhoso
para nós e para os que virão.
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